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No caminho estava
Moni Aka Futurista...

Deise de Brito

Exposição: “Moni Aka Futurista” (2022)

10º Sou Locker - Encontro paulista de Locking (2022)

País : Brasil ( São Paulo-SP)


Percebida em julho de 2022 

Exibição entre 18 e 30 de julho de 2022

Local: Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo, São Paulo – SP-Brasil.

 

FICHA TÉCNICA do 10º Sou Locker

Produção: Carolina Gomes, Daniela Alves, Darlita Albino e Flip Couto
Assistente de Produção: Lilian Moura Lopes
Design: Daniel Tres D
Vídeo e Edição: SE7&8 Produções
Fotografia: Diego Henrique Fotografia
Equipe de produção Exposição: Andre Januzzi, Eduardo José Moreira, Lívia Gomes Moreira
Artistes convidades: Adriana Teodoro,  Casper Back Spin, DJ Lika Marques, Dj Nino Breakuts, Edu Alpha Jr, Eliseu Correa, Flávia Soul Sister, Gal Martins, Ivo Alcântara, Jorge Boog, King Nino Brown, Marcelinho Back Spin, MC Evandro Smile, Monika Bernardes,  Nathalia Glitz

A 10ª edição Sou Locker recebeu o apoio da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo através do Centro de Referência da Dança da cidade de São Paulo cuja coordenação pedagógica, na época, era do Projeto CRDAfetos do Núcleo Corpo Rastreado.

Muitas boas surpresas podem acontecer ao longo de um caminho. E não é para isso que estou aqui? Para saborear o trajeto ao viver com ele e por ele? Escutar sua respiração e pisar no seu chão? Entender através das suas imagens o que ele me conta e deixar-me sentir, mesmo quando meus sentidos estão sobrecarregados de informações?  Este primeiro parágrafo é a respeito disso: sobre eu não perder a fé que saudáveis surpresas podem aparecer num trajeto. É apenas isso.

O segundo parágrafo é para começar a contar a respeito de um caminho, um trânsito entre a sala de entrada do Centro de Referência da Dança da cidade São Paulo (CRD SP) e a sala 08 do mesmo local. Na verdade, é acerca do que estava nesse caminho, quando cheguei àquele lugar, em um dia de julho de 2022.

Na ocasião estava como provocadora de movimento do Núcleo Negras Falas, matrigestado por Ciça Coutinho.  E, em cultivo, estava o espetáculo “território nosso: FALAS”. Ao entrar no CRD SP para trabalhar com o núcleo, que ensaiava também no local referido, eu encontrei a Monika Bernardes, ou mais especificamente, uma exposição do seu acervo a respeito do seu percurso na dança.

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Monika Bernardes na abertura da exposição “Moni Aka Futurista”. CRD SP. Foto: acervo da organização do Sou Locker

Monika Bernardes e Silva é cria do bairro do Jabaquara, na cidade de São Paulo-SP, filha de Maria Erla Araújo, nascida na cidade de Parnaíba no Piauí, e de Rey Bernardes e Silva.

 

( organização do 10˚ Sou Locker)

Monika nasceu em 16 de dezembro de 1970.  Há 30 anos encanta a arte de dançar com a assinatura do movimento do seu corpo, que se faz singular por ser ela – Moni Aka Futurista - com todos os seus anseios, histórias, todo seu devir e toda sua sabedoria. Mestra.  E esse título foi dado pela universidade mais radical, que é o conjunto de muitas pessoas, especialmente mulheres, das danças urbanas e da cultura hip hop de São Paulo, que se inspira na existência do seu legado.

Quando senti a exposição “Moni Aka Futurista”, durante a passagem para a sala 08, convocou-se em mim um desejo de retorno à sala de entrada do CRD SP e assim o fiz, junto com integrantes do Núcleo Negras Falas: Ciça Coutinho, Ijur Sanso, Nathália Fonseca e Talita Lima.

Em silêncio, apreciamos a trajetória da Monika, a partir de variados tipos de documentos: fotos, vídeos, roupas da artista, reportagens na imprensa, entre outros.  

Sem desconsiderar a importância dessas materialidades documentais, é imprescindível salientar que o corpo da Monika já é um imenso arquivo. Assim, autodidatismo, aprendizagem nos bailes e suas experiências com grupos, como o Discípulos do Ritmo, companhia dirigida pelo artista Frank Ejara, no qual ela trabalha há mais de vinte anos, são importantes informações que acompanham outros caminhos muito preciosos dessa coleção dançante que ela configura. Em adição, os registros que o seu corpo vem produzindo, na medida em que o seu repertório se alimenta, desenvolvendo seus gestos, além de seus modos de dançar e criar.

Com certeza, o arquivo corporal da artista é extenso, dinâmico, complexo e preenchido de muitas curvas e provocações – referente a estas últimas: dela com ela mesma e dela para nós. Somente Monika tem acesso às “gavetas” mais secretas, mas ela nos beneficiou, ao compartilhar algumas que puderam ser conhecidas publicamente na exposição. E que oportunidade para as pessoas que conseguiram viver a experiência de conhecer parte do acervo dela!

A chance de apreciar a mostra visual a respeito da história em movimento de Monika Bernardes foi proporcionada pela atitude generosa da artista em compartilhar o seu acervo material e pelo engajamento da produção e organização do “10º Sou Locker -Encontro paulista de Locking”.  Esse evento propôs a exposição e tem como objetivo principal celebrar e reunir saberes do locking, dança urbana, criada em comunidades negras estadunidenses da cidade de Los Angeles.

A décima edição do Sou Locker 3, que é realizado desde 2014 no CRD SP, ocorreu entre 11 e 30 de julho de 2022 e constituiu um conjunto de atividades: laboratório de pesquisa, imersão Sou Locker, master coreográfico, mostra de dança, batalha de locking, baile black e a exibição “Moni Aka Futurista”.

A exposição, ação que pude visitar, vibrava uma energia de amorosidade, como se os processos de curadoria do acervo e a montagem da mostra tivessem sido construídos por caminhos afetuosos e, ao mesmo tempo, cientes da urgência em reverenciar alguém que é importante, não somente para a continuidade do locking, mas também para o dançar em São Paulo. Salvo que era uma mostra visual, a partir das percepções de pessoas fazedoras de dança que têm a troca como base e o baile como escola.

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Conversa entre Monika e as produtoras do evento Sou Locker: Darlita Albino, Daniela Alves e Carolina Gomes. CRD SP. Foto: acervo da organização Sou Locker.

Durante a minha experiência na exposição, além de ter sido apresentada a materiais que são da artista, fui orientada organicamente a perceber o mundo, a partir do acervo disponibilizado, realizando perguntas para mim mesma a respeito da maneira como a Monika baila a vida. E não seria essa a beleza do caminho, quando encontramos uma preciosa surpresa? Deslocar os nossos conhecimentos para que eles se abram para conhecer outras sabenças?

Monika é nossa ancestralidade na Dança Locking e nas Danças Urbanas de São Paulo, ela é também nosso futuro com um pensamento e estética inovadores em seu trabalho!”

( organização do 10˚ Sou Locker)

Carolina Gomes trabalhando na montagem da exposição “Moni Aka Futurista” . CRD SP. Foto: acervo da organização Sou Locker.

A produção do Sou Locker – composta por Daniela Alves, Carol Gomes, Darlita Albino e Flip Couto – teve assertividade ao encarar afetuosamente o desafio de incluir a Exposição “Moni Aka Futurista” no evento.

Espero que, na próxima edição, se continue plantando espaços para abordar a memória do locking através de acervos de outras pessoas artistas, pois assim como a da Monika acredito que há muitas outras narrativas que pulsam a história dessa dança. 

Dessa forma, peço licença e arrisco-me a lançar um desafio nessa batalha pela memória para o conjunto que organiza o evento:  e se, na próxima exposição, a curadoria e a montagem fossem, do ângulo estético e poético, inspiradas radicalmente em movimentos da dança locking?

Provoco com essa instigação, porque considero que praticar a partilha de arquivos, a partir das nossas lógicas, é nutrir os caminhos para a revolução. 

E aí, desafio aceito? 

1 Conheça um pouco mais a respeito da história por trás dessa fala no bate-papo da pesquisadora Gabriela Alvarenga com a artista Monika Bernardes em Portal MUD - Leitura: Monika Bernardes - um bate papo sobre escolas de baile, resiliência e muita dança / Acesso em 23 de julho de 2023.

2 Richard ‘Crazy Legs` Colón é um b-boy (dançarino de breaking), porto-riquenho-estadunidense, cujo percurso profissional é também fundamental para entender a história da cultura hip hop.

3 O festival Soul Locker iniciou em 2012
Âncora 1
Âncora 2
Âncora 3
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